terça-feira, 27 de março de 2012

A grandeza do negócio não depende do seu tamanho

A falta de uma sede própria não impede a oferta de um grande produto ou serviço. O que importa mesmo é o tamanho do empreendedor
Por Marcelo Nakagawa

O empreendedorismo está se consolidando como um dos pilares da educação de vanguarda no país. Hoje, são as escolas que privilegiam a capacidade inovadora e o protagonismo dos seus alunos, ao mesmo tempo que demonstram os resultados exponenciais do trabalho em equipe. O empreendedorismo também é um dos motores que propulsionam a carreira de qualquer profissional bem-sucedido no Brasil. Basta analisar a trajetória de um profissional de sucesso para identificar nele comportamentos empreendedores. Isso é o que vemos na crescente, mas ainda limitada, base de exemplos que aparecem na mídia, nos prêmios e nas entidades que apoiam o empreendedorismo. Como é de se esperar, pois estamos falando de exceções, para cada grande exemplo temos dezenas, centenas ou milhares de casos medíocres. Não no sentido ofensivo, mas na condição de serem médios. Temos funcionários médios, alunos médios, empresas médias, com produtos e serviços médios. Entre um grande restaurante e outro, quantos medíocres você conheceu? Mude restaurante por outro produto ou serviço trivial, e algo parecido com “muitos” continuará sendo a resposta. Do mesmo modo, o número de empresários médios prevalece. Estão em todos os lugares.

COMPROMISSO COM O CLIENTE

Para que o negócio possa crescer, o empreendedor deve estar comprometido com uma experiência de consumo, mesmo que isso custe um pouco mais. Ser uma empresa de "fundo de quintal" não impediu que Anna e David Kopenhagen de produzirem chocolates de alta qualidade
A trajetória do empresário médio começa quando ele ou ela tem vergonha das suas origens. Acredita que as limitações de recursos impedem a oferta de um grande produto ou serviço. Ser uma empresa de “fundo de quintal” é depreciativo no Brasil. Uma empresa confiável precisa ter “sede própria”, como era comum escrever nas fachadas no início do século passado. Mas, se esse empresário pensasse grande, veria que “fundo de quintal” poderia ser equivalente ao que é a garagem nos Estados Unidos. E lá isso quer dizer Amazon, Apple, Disney, Google, HP, Harley Davidson, Mattel, apenas para citar alguns negócios que nasceram em garagens. Não tem fundo de quintal ou garagem na sua casa? Tudo bem. Pense no seu quarto. Nos Estados Unidos, isso remete à Dell e aos cartões Hallmark, que nasceram em pequenos quartos. Sua empresa pode ser a sala de estar, como ocorreu com o eBay e o Linkedin, ou mesmo a cozinha, local da casa que foi fundamental para empresas como Nike, Powerbar e Mrs. Fields. No Brasil, ser “fundo de quintal” não impediu Anna e David Kopenhagen de produzirem marzipãs e a seguir chocolates de alta qualidade. Mais de 80 anos depois, a excelência dos produtos que saíam da cozinha de Anna ainda é valorizada. A ausência de sede própria também não impediu Giovanni Ceratti de produzir embutidos de primeira linha e de vendê-los na frente de sua casa. Ser grande, nessas situações, é estar comprometido em oferecer uma grande experiência de consumo, mesmo que isso custe um pouco mais, seja um pouco mais trabalhoso e um pouco mais complexo. Nas palavras de Steve Jobs, seria não utilizar madeira de segunda no forro de um armário, mesmo que ninguém o veja. Se mantiverem essa crença, as empresas tendem a crescer e a se tornar grandes no decorrer do tempo. Mas não os empreendedores. Eles já eram grandes quando não enxergavam limites em seus fundos de quintais.

*Marcelo Nakagawa é professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper e-mail: mnakagawa@insper.edu.br

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